Em tempos incertos, estar preparado para oportunidades e riscos transforma negócios aos olhos do mercado, dos investidores e dos colaboradores
No artigo Rethinking Risk Management (1996), René Stulz afirma que a gestão de riscos cria valor e declara: “dentro das corporações, a prática da gestão do risco foca nas transações das empresas que dependem da visão dos gestores da firma”. É assim que René traz para a lente da prática os riscos corporativos e a governança, colocando nas mãos dos líderes a responsabilidade e a visão desses riscos, bem como sua gestão.
Contudo, para falarmos sobre o legado da gestão de riscos e da governança, é necessária uma pausa para pensarmos sobre pessoas, pois tudo tem início em cada um de nós. A partir da declaração de Stulz, podemos refletir sobre o destaque da prática no dia a dia corporativo.
Entender o que as pessoas fazem e como entendem seu trabalho é uma das chaves para que qualquer negócio alcance o sucesso, afinal, a base de toda empresa reside nas pessoas. No fim do dia, são as pessoas que tomam as decisões dos negócios, que são responsáveis pelos direcionamentos estratégicos, que lidam com clientes, vendem, atingem metas e objetivos.
Ao mesmo tempo, pessoas realizam essa série de ações por meio de processos – e da sua compreensão da dinâmica corporativa e suas particularidades. Com a evolução tecnológica das últimas décadas, toda empresa, seja born digital ou on going digital, experimentou ou tem experimentado algum tipo de transformação em seu ambiente organizacional, conduzida sempre por líderes, executores de tarefas multifacetadas e complexas para a gestão desses negócios.
Todavia, para a construção de uma jornada real e ética de uma empresa, pessoas e processos precisam de um terceiro elemento para completar a tríade de sucesso capaz de suportar o dinamismo do mercado: tecnologia. As tecnologias funcionam como fio condutor que fará com que pessoas e processos sejam melhores e mais eficientes, capazes de identificar gaps, deficiências e riscos em suas condutas, operações, trâmites burocráticos, relações com clientes e em tantas outras oportunidades.
É nesse contexto que o modelo de GRC (Governança, Risco e Compliance) deve ser revisto e ressignificado constantemente, respeitando as mudanças que as organizações enfrentam interna e externamente, e as tecnologias são aliadas essenciais nessa caminhada.
A pergunta que se apresenta é: como gestores e líderes esperam controlar ambientes caracterizados por incertezas, ambiguidades, mudanças rápidas, inundados por informações, com empresas cada vez mais cross functional e colaboradores terceirizados e multigeracionais? Sim, pois os negócios mudam com rapidez, e as pessoas, ainda mais!
Atualmente, as corporações abrigam profissionais de todas as idades, da geração conhecida como baby boomers até a geração Z – e assim como as décadas que as separam, as diferenças entre elas são muitas. Aqui, o líder de ponta deve provar sua capacidade de governança.
Enquanto lidera pessoas que foram educadas em uma época na qual a palavra ética parecia de difícil compreensão, simultaneamente, esse profissional de ponta discute estratégias com funcionários que só apoiam empresas comprometidas com a sustentabilidade e se comprometem verdadeiramente com demandas sociais.
Logo, assim como equilibra pensamentos e práticas distintas no ambiente corporativo, o líder de ponta deve se ocupar em identificar riscos e analisar como a estratégia dos negócios vai se comportar diante de diferentes cenários.
Na figura acima, esse simples diagrama atenta para a interação entre pessoas, processos e tecnologias, criando valor e trazendo conhecimento para as companhias. A empresa que apresenta largo conhecimento sobre si, está ciente de suas fraquezas e fortalezas, ganha poder e munição para momentos de crise ou transição, aqueles em que os conhecimentos em governança, risco e compliance são mais necessários.
Assim como a governança e a liderança são dois elementos inseparáveis, o risco não possui apenas uma conotação negativa para as empresas. Nas muitas vezes em que não pode ser extinto, deve ser gerenciado – e só assim pode trazer oportunidades e novas habilidades para as corporações e seus times.
Porém, parece difícil pensar como isso funciona na prática. Quando falamos de capacidades relacionadas à gestão estratégica de risco, nos referimos a uma força única da organização e de seus líderes, a capacidade de gerir oportunidades que trazem inteligência competitiva, sustentação para os negócios e conexão com todos os ganhos potenciais para os stakeholders.
Toda essa transformação tecnológica trouxe mudanças comportamentais e despertou a atenção das empresas sobre o capital humano, a inovação, a gestão de riscos, o aprendizado e o conhecimento, gerando a necessidade de uma gestão ágil dos recursos. É por meio da frente de governança e gestão de riscos que as companhias se tornam capazes de realizar a gestão mais eficiente e orquestrada de seus objetivos, garantindo ritmo e direção por toda estrutura e pelo longo prazo.
Ainda assim, por mais que o ecossistema corporativo e o mercado entenda a importância de uma política de GRC para a sustentabilidade e para o sucesso das empreitadas, implementá-la e “alimentá-la” exige o entendimento claro de todas as pessoas da companhia. A maturidade em governança, tão desejada por diversas empresas, só é atingida a partir do momento em que ela é escolhida e praticada diariamente.
Faz-se fundamental que a empreitada do GRC seja iniciada o quanto antes e se torne parte enraizada sobre “quem” a empresa deseja ser. Quanto antes o GRC é iniciado, menores são os custos ao longo do tempo, promovendo a simplificação da operação e mostrando de antemão desafios, oportunidades e riscos envolvidos em cada movimento projetado pelos negócios.
Acima de tudo, já é possível fazer a seguinte constatação: mercado e investidores têm uma melhor percepção a respeito das empresas que adotam práticas formais de controle e gestão dos riscos, controles financeiros, processos de auditoria, sistemas de compliance e regulação, trilhando assim uma governança robusta e autoexplicativa.
Além disso, o GRC é dinâmico. Ao iniciar seus esforços na área, é como se o play de um filme fosse acionado. O filme começa a rodar e só vai chegar próximo ao fim quando as áreas estiverem integradas, em colaboração, trazendo conhecimento, base de dados úteis e inteligência. E esse filme só receberá um prêmio se apresentar um conjunto de atores afiados, uma narrativa convincente e uma direção que se dedica em todos os estágios da produção e edição, pronta para enfrentar reveses financeiros, falhas de roteiro e até desastres naturais durante as filmagens.
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